Uma atriz está sempre interpretando o texto de alguém. Ri, chora, ama, trai, perdoa... Vive intensamente emoções que não são exatamente suas. Maitê\r\n\r\nProença, uma das atrizes mais constantes do cinema, teatro e TV , resolveu ir além e passou a exercitar sua própria visão do mundo numa coluna na revista Época. Nesta espécie de reflexão diante de si mesma e do cotidiano, mostrou que seu talento transborda os palcos e estúdios. Seus textos são tão expressivos que a Ediouro resolveu publicá-los num livro. Entre Ossos e a Escrita, que será lançado em novembro, reúne as melhores crônicas da atriz publicadas ao longo de 2003 e 2004, algumas delas melhoradas e outras\r\nainda inéditas. "Como protagonista de duas histórias de época ( Marquesa de Santos e Dona Beija), nela admirei a mesma consciência e acabamento que encontro em suas crônicas", afirma Carlos Heitor Cony, autor do préfácio, que diz ainda: "Escrever é verbo transitivo, pede complemento direto, que em latim exige o acusativo. E Maitê acusa, acusa no sentido de estar presente, e não em termos de libelo, denúncia ou\r\nqueixa, mas de expressão de seu mar interior". \r\n\r\n\r\nEm Maitê Proença não falta senso de humor nem olhar crítico. Aliás, não falta também sinceridade e fidelidade à vida e ao nobre sentimento que é o amor.\r\n\r\n"Desconfio dessas moças de trinta e quarenta anos que, lindas, dizem agora sim ter atingido o ápice de não sei o quê, e que estão muito bem sozinhas porque, donas de seus narizes, podem se dar totalmente ao trabalho e aos prazeres da vida. Mentira. Elas tomam remédios para dormir e choram frustradas, sem entender por que, com tudo em cima, não conseguem um parceiro para encher de beijos e dizer 'te amo'", alfineta.\r\n\r\n\r\nPara tornar a leitura ainda mais prazerosa, optou-se por ignorar a ordem cronológica dos textos, dividindo-os por assunto, num total de sete capítulos. "Algumas reflexões eram verdades de um momento que passou, outras são conceitos que me acompanharão pela vida, e há mentiras também... como numa boa conversa entre amigos".\r\n\r\nMaitê Proença não tem medo de expor suas opiniões, e é isto o que mais atrai em suas crônicas. "Acontece que fui uma criança teimosa, uma adolescente sem freios e, por tempo demais, uma adulta defendida e agressiva. Hoje, tendo trocado de pele mil vezes, o imprestável em seu devido lugar, uma pitada de clareza aqui, outra lá...gosto da pessoa que virei". Esta segurança está visivelmente enraizada em suas crônicas. Ela escreve sobre tudo porque sabe que não está simplesmente julgando, mas apresentando sua opinião que, por sua vez, está baseada em argumentos bastante sólidos.\r\n\r\nAlém da arte de amar, a atriz fala de sua vida pessoal, de seu relacionamento com a filha e das dificuldades que enfrentou quando a mãe morreu brutalmente; de sexo, do dia que entrou numa loja de artigos sexuais pela primeira vez e o que sentiu quando comeu oito moscas afrodisíacas; de sua busca pela espiritualidade e suas viagens a Marrocos e Índia; da polêmica sobre a legalização das drogas;da poesia que entregou ao "Rei" Roberto Carlos na esperança de que ele a gravasse. A atriz tem tantas histórias inesquecíveis e opiniões interessantes que fica difícil resumi-las. E resumir por que? Está tudo em Entre Ossos e a Escrita, livro para ser devorado com a mesma vontade que esta escritora devora a vida.