Poucas vezes beleza formal e lirismo confessional foram combinados como na obra do poeta português Manuel Maria I'Hedoux Barbosa du Bocage (1765 - 1805). Nascido em um época de rigidez cultural no reino de Portugal - imperava o arcadismo e o neoclassicismo, a limitação de temas e formas, e a Inquisição barrava os ventos iluministas que sopravam da França - , Bocage tornou-se um jovem irriquieto, pertubado, famoso por sua participação na vida boêmia e intelectual lisboeta. Romântico antes do romântismo, escrevia poemas eróticos, satíricos, nostálgicos, altamente confessionais, cheios de angústia, refências ao amor e à morte, fazendo pouco do Estado e da religião. Rimbaud antes de Rimbaud: assim como este foi à África, lançou-se numa expedição ao Oriente, sempre procurando um bálsamo para a sua inquietação emocional. De volta a Portugal, foi preso por seus versos, vindo a falecer jovem, aos 40 anos, após publicar seus três volumes de poesia, Rimas. Um homem à frente do seu tempo, iluminista e libertino incompreendido, o seu gênio só foi reconhecido pela posteridade. Sobre Bocage, Almeida Garret disse: "o soneto português nasceu com ele e com ele morreu". E Olavo Bilac: "Em Portugal, a arte de fazer versos chegou ao apogeu com Bocage e depois dele decaiu. Portugal teve talvez poetas mais fortes, de surto mais alto, de mais fecunda imaginação. Mas nenhum o excedeu nem o igualou no brilho de expressão".