Considerações sobre a paz de espírito A fé e suas manifestações cotidianas, segundo o olhar irreverente de Anne Lamott Quando ainda era uma jovem hippie dos anos 70, a norte-americana Anne Lamott tinha paixão pelos livros e compulsão por álcool, comida e drogas. A paixão se transformaria em meio de vida; a compulsão, em trampolim para um novo estilo de vida, orientado pela busca de equilíbrio espiritual. Hoje escritora famosa, Anne tem admiradores fiéis para seus livros de não-ficção, nos quais brilha uma escrita direta, confessional, temperada com humor cínico. Um estilo de que ela nunca abre mão. Nem mesmo para falar de fé. Lançado pela Editora Globo, A Conquista - A transformação da vida pela espiritualidade é uma oportunidade de o público brasileiro travar contato com a obra de Anne Lamott. Composto por artigos e ensaios publicados na mídia americana (Los Angeles Times, The Boston Globe, O: The Oprah Winfrey Magazine, entre outros veículos), o livro reúne agudas observações sobre memórias e situações que aportaram uma nova compreensão sobre a fé na vida da autora. São testemunhos sem floreios nem mistificações. Anne relata experiências banais, corriqueiras, mas que, filtradas pelas lentes da transcendência, se configuram em ocasiões plenas de significado espiritual. Na visão da autora, a trivialidade da vida comum é o espaço por excelência para a manifestação da graça divina. O que, no caso dela, ocorre nos momentos mais inesperados e menos solenes: num desastrado tombo de esqui na neve; no cru exame da própria beleza diante do espelho; na vontade ecologicamente correta de produzir menos lixo doméstico; no e-mail grosseiro enviado num rompante de mau-humor. Situações como essas servem como ponto de partida para textos inspirados, que abordam a fé sem nenhuma reverência - mas sempre com amoroso respeito. Textos escritos com o cinismo irônico de quem conhece o que é pecado, mas também com o desprendimento de quem se empenha em trilhar o caminho para a elevação da alma. Obstáculos, becos sem saída e encruzilhadas surgem o tempo todo nessa caminhada, reconhece Anne. A autora é a primeira a afirmar que adoraria que a iluminação espiritual se instalasse em nossas vidas como num passe de mágica. Mas lembra: a verdadeira graça, a reconexão com o divino, só se alcança por meio de determinação aplicada dia após dia, em cada momento da vida. Tudo depende de uma decisão individual. "A melhor maneira de mudar o mundo é mudar sua mente, o que sempre requer que você encontre a si mesmo. Ajuda a estabelecer uma paz bioquímica. É quase como uma oração: para ser necessário, para comer, para sentir o gosto, para ser preenchido, para ser saciado, para construir em vez de destruir", diz Anne em A Conquista.